Se a esperança venceu o medo, a inexperiência está pondo em risco a esperança. A crise em que mergulhou o governo, depois da fitas de Waldomiro pela revista Época, já havia sido anunciada há um bom tempo e poderia – e deveria – ter sido debelada naquele momento. Em julho do ano passado, ISTOÉ publicou reportagem de Mário Simas Filho e Luiz Cláudio Cunha, na qual se contava que Waldomiro Diniz, o assessor do ministro José Dirceu, tinha relações excessivamente íntimas com o pessoal do jogo. O ministro, então, ficou possesso com as denúncias e foi para cima do seu assessor, que esperneou e desmentiu. Waldomiro fez ainda um exemplar jogo de cena, que incluiu até ofícios para o Ministério da Justiça, para o procurador-geral da República e para o corregedor da União, pedindo que fossem investigadas as denúncias. Parece que os dotes teatrais de Waldomiro são excelentes, pois ele permaneceu em sua sala no Palácio do Planalto por mais sete meses, até a sexta-feira 13, quando, como um alien bem alimentado que aproveitava a simbologia da data, se expeliu com estrondo, causando estragos e levando seu ex-chefe a mergulhar num inferno astral recheado de ataques, boatos e trapalhadas.
O ministro José Dirceu, que não imaginou o tamanho da traição do assessor, chegou a pôr o cargo à disposição do presidente Lula e ficou inoperante por um tempo. O suficiente para que o incêndio que se alastrava pelo Congresso, com o pedido de assinaturas para uma CPI, fosse combatido pelo PT com gasolina de alta octanagem. O fogo se alastrou com mais força quando foi pedida uma CPI mais ampla que incluísse todas as verbas de campanha. O ministro finalmente interveio, o PT voltou atrás e o fogo amainou um pouco. Mas não muito. Durante as crises surgem os boatos e aí começa a temporada do chuta o que tem na frente. No início da tarde da quinta-feira 19, corria a versão de que Waldomiro e o ministro José Dirceu seriam sócios em um sítio no município de Vinhedo, interior paulista. No cartório de Vinhedo, porém, a informação não foi confirmada. Há, sim, o registro de uma propriedade em nome do ministro. Sem sócios. A funcionária do cartório que lavrou a escritura recorda-se de Dirceu e lembra ter lhe sugerido – algo irregular, mas de praxe – registrar o sítio pelo valor venal (normalmente abaixo do mercado), mas a proposta não foi aceita. Segundo ela, o ministro lhe disse que como homem público não poderia compartilhar com a artimanha. No final da tarde, o tal sítio em Vinhedo já havia se transformado em fazenda no Paraguai.
O que é fato, e não boato, é que o País não precisa disso tudo. Muito menos no começo do segundo ano de um governo no qual tantas esperanças estão depositadas. É muito cedo para o escorpião atacar o sapo que ainda nem chegou no meio do rio. Como se não fossem suficientes as decisões do Copom, que tem esbanjado perícia para jogar o País numa desnecessária paralisia e num amargo baixo-astral.